Fábio Bispo Elaine Stepanski FLORIANÓPOLIS |
Mesmo proibido por lei desde 1997, o costume de soltar o boi pelas ruas de Governador Celso Ramos, a 50 quilômetros de Florianópolis, é repetido todos os anos na Sexta-Feira Santa, numa espécie de ritual que para a cidade. A polícia, que tem o dever de cumprir a lei, até se mostra presente, mas é incapaz de evitar as investidas dos homens contra o animal, que é testado até o limite antes de ser abatido e virar alimento. Nesta época do ano, a farra do boi é o assunto da comunidade, formada na sua maioria por pescadores, e atrai multidões de pessoas de diversas regiões do Estado que dizem “manter viva a tradição” trazida pelos primeiros imigrantes açorianos, em medos do século 18, para o litoral de Santa Catarina.
Sentadas em volta da praça 15 de Novembro, no centro de Governador Celso Ramos, senhoras se misturam aos mais jovens para aguardar ansiosamente a chegada do boi. Os garotos discutem sobre a força do animal, enquanto os foguetes anunciam mais um ritual. O local é um dos pontos de encontro dos farristas, que dali seguem para onde estiver acontecendo a farra Na última sexta-feira (18) o Notícias do Dia percorreu as ruas do município, um dos poucos lugares no Estado aonde a farra do boi acontece indiscriminadamente sem pudor.
A farra se tornou um evento que atrai pessoas de toda a região da Grande Florianópolis. A reunião de pessoas que se revezam para correr atrás do boi se transforma numa verdadeira festa, que inclui musica, bebidas e descontração. Se colocar na frente do boi torna-se um ato de coragem, e que algumas vezes acaba com pessoas feridas, como foi o caso de um jovem que acabou sendo levado para o hospital, na quinta-feira da semana passada, depois de ser atingido pelo animal.
A popularidade chama a atenção tanto de adeptos como dos contrários, que combatem a forma cruel como acontecem as farras. A imprensa não é bem-vinda, assim como os contrários. Estes últimos são chamados pelos nativos de “haole”, por normalmente serem pessoas que não foram criadas na cidade. E é nesse clima de medição de forças, entre o que é legal e tradicional, que todos se manifestam sobre a farra. “Não existe mais boi como antigamente, a polícia fica em cima, mas que tem farra tem e é uma coisa muito boa”, conta um pescador nativo, de 51 anos.
Fábio Bispo/ND
Na 2ª Festa Campeira é a maneira homens "brincam com o boi" sem machucá-lo
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